Mulheres relatam desconforto e busca por bem-estar como razões para a ninfoplastia, segundo Dra. Jacque Ferraz
O Brasil ocupa o primeiro lugar no mundo em número de cirurgias íntimas, com a ninfoplastia (ou labioplastia) sendo o procedimento mais realizado, é o que dizem os dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS). A cirurgia, que altera o tamanho e a forma dos lábios vaginais, tem ganhado crescente popularidade, mas também gerado debates sobre as reais motivações das pacientes e as influências sociais por trás dessa decisão.
Enquanto parte da opinião pública atribui a popularidade do procedimento a padrões estéticos e influências da indústria pornográfica, profissionais de saúde que lidam diretamente com as pacientes apontam outras motivações. A Clínica Corpo e Mente (@clinicacorpoementevdc), especializada em cirurgia íntima, relata que, na maioria dos casos, as pacientes procuram a cirurgia por razões pessoais e desconfortos físicos reais, e não por imposições externas.
“Na minha realidade, as mulheres que me procuram pra fazerem cirurgia íntima estão há muito tempo desconfortáveis com suas regiões íntimas e referem desconfortos ao usarem roupas justas e durante as relações sexuais”, afirma a Dra. Jacque Ferraz (@drajacqueferraz), médica responsável pela clínica. Segundo ela, o sofrimento é muitas vezes silencioso e se prolonga por anos, até que a mulher encontre coragem ou informação suficiente para buscar ajuda.
A médica também contesta a ideia de que a decisão de realizar a cirurgia seja, na maior parte das vezes, motivada por pressões masculinas. “Na maioria dos casos, seus parceiros não têm qualquer influência na sua decisão de fazer a cirurgia e nem querem que elas façam. Acham que a vulva de suas parceiras não tem qualquer alteração”, destaca.
A questão tem se tornado cada vez mais discutida, especialmente após a divulgação de celebridades como Anitta (@anitta), Gretchen (@mariagretchen) e Virginia Fonseca (@virginia), que abriram o debate sobre a ninfoplastia ao compartilharem publicamente que haviam realizado a cirurgia. Esse aumento na visibilidade do procedimento, no entanto, gerou controvérsias sobre os impactos dos padrões estéticos que essas figuras públicas podem reforçar.
Embora existam críticas sobre a busca por uma “vulva perfeita” com base nos padrões frequentemente retratados em filmes e vídeos adultos, a realidade das pacientes que buscam a cirurgia na Clínica Corpo e Mente reflete questões mais complexas. Muitas delas relatam um longo período de desconforto com suas condições anatômicas, o que afetou não apenas sua autoestima, mas também aspectos importantes de sua vida cotidiana.
“Conviver com a assimetria sempre foi um incômodo pra mim. Um dos lados era visivelmente maior e ficava sempre pra fora”, conta uma paciente que passou pela cirurgia recentemente e prefere não se identificar. Ela revela que, além da estética, havia também limitações práticas: “Roupas justas me incomodavam, e até durante a relação sexual, eu me sentia insegura.”
De acordo com especialistas, a procura pelo procedimento tem se tornado mais comum, à medida que as mulheres se sentem mais empoderadas para buscar soluções para seus próprios desconfortos, sejam eles físicos ou psicológicos. A desmistificação do tema e a maior circulação de informações têm permitido que as mulheres conheçam suas opções e tomem decisões com base em suas próprias necessidades, e não apenas em ideais de beleza impostos externamente.
“A cirurgia foi muito mais tranquila do que eu imaginava. O ambiente era leve, conversamos, demos risada… Me senti segura o tempo todo”, lembra a paciente, referindo-se ao momento do procedimento. O pós-operatório, segundo ela, também surpreendeu: “Só senti um pouco de desconforto no dia seguinte. Depois, se não fossem os pontos, nem lembrava que já tinha feito.”
O debate sobre as motivações para a ninfoplastia continua a ser uma questão importante dentro do universo da cirurgia íntima, e as diversas perspectivas sobre o assunto indicam que, para muitas mulheres, essa decisão envolve mais questões de bem-estar e autoestima do que os padrões estéticos discutidos nas mídias sociais.